O diagnóstico diferencial de supradesnivelamento do segmento ST deve ser feito o mais rápido possível, tendo sempre em conta a história clínica. Ver abordagem.
Os supra e infradesnivelamentos do segmento ST devem ser avaliados pela posição Ponto J do tendo como referência a linha de base do intervalo PR.
Causas
Fisiológico/Normal
Isquemia
EAM
Angina de Prinzmetal
Síndroma de Takotsubo
Pós-EAM (aneurisma ou áreas de discinésia da motilidade segmentar do ventrículo)
Pericardite/miocardite aguda
HVE
BRE
Outros
TEP
Síndroma de Brugada
Ondas Epsilon
Repolarização Precoce
Anti-arrítmicos classe 1C
AVC
HiperCa2+
HiperK+
Hipotermia
Tumor cardíaco
Trauma ventricular
Dissecção aórtica
Aneurisma ventricular
MCDT
Ver abordagem
Abordagem
São vários os diagnósticos diferenciais de supradesnivalemanto do segmento ST, sendo essencial o contexto clínico em que ocorrem. Se os sintomas forem sugestivos de DCI aguda, ou dúvidas quanto ao diagnóstico diferencial, o utente deve ser encaminhado ao SU.
De seguida, apresentaremos algumas das causas mais frequentes de supradesnivelamento do segmento ST, e as respectivas características electrocardiográficas. Para uma lista mais exaustiva, ver causas.
Normal:
Elevação do ponto J <0,1mV nas derivações pré-cordiais, podendo ser ligeiramente superior (<0,2mV nos homens e <0,15mV nas mulheres) em V2-V3;
Geralmente o segmento ST tem concavidade superior.
EAM com supradesnivelamento de ST
Num contexto clínico sugestivo, e na ausência de bloqueio de ramo, hipertrofia ventricular ou ritmo de pacemaker:
Supradesnivelamento do ponto J (Figura – Supra ST) ≥ 0,1mV em ≥ 2 derivações contíguas, excepto em V2-V3, onde tem de ser:
≥ 0,2mV nos homens com ≥ 40 anos;
≥ 0,25mV nos homens com <40 anos;
≥ 0,15mV nas mulheres, independentemente da idade.
Se avaliado numa fase inicial o supradesnivalemento do segmento ST pode ainda não ser visível. A cronologia típica de eventos é:
1º: Onda T hiperaguda, simétrica;
2º: Elevação do segmento ST, inicialmente mantendo a concavidade superior, mas assumindo progressivamente uma convexidade superior e com declive ascendente;
3º: Fusão segmento ST com onda T;
4º: Passada a fase aguda, com o passar dos dias/semanas, o segmento ST volta ao normal, desenvolve-se uma onda Q patológica, há diminuição da amplitude da onda R e inversão da onda T.
Pericardite aguda/miocardite
Supradesnivelamento difuso, isto é, em todas ou várias derivações (excepto aVR, onde ocorrerá infradesnivelamento), não necessriamente contíguas, do segmento ST.
Geralmente o segmento ST assume uma conformação com concavidade superior.
Pode haver infradesnivelamento do segmento PR.
HiperK
Pode ocorrer supradesnivalemento do segmento ST, geralmente com concavidade superior e declive em decrescendo.
Frequentemente acompanhado de outras alterações no ECG. Por ordem de aparecimento:
1º Ondas T hiperagudas;
2º Encurtamento do intervalo QT;
3º Aumento progressivo do intervalo PR e QRS;
4º Desaparecimento da onda P;
5º Padrão sinusoidal do QRS.
Angina de Prinzmetal
Supradesnivalemento do segmento ST semelhante a EAM com supra de ST, com a diferença que dura apenas escassos minutos e desaparece para dar lugar a um ECG normal.
Tromboembolismo pulmonar
Pode mimetizar um EAM com supra de ST nas derivações antero-septais (V1-V4).
Pode estar acompanhado de: taquicardia sinusal; padrão S1Q3T3; bloqueio de ramo direito, completo ou incompleto.
Aneurisma ventricular
Supradesnivelamento do segmento ST, em tudo semelhante a EAM com supra de ST, mas que dura várias semanas.
No caso de HVE, HVD, BRD, BRE, WPW, os supradesnivelamentos do segmento ST são geralmente secundários a alterações de despolarização. No entanto:
Sugestivo de isquemia se:
Anamnese sugestiva, independentemente do segmento ST; e/ou
Segmento ST e/ou onda T supradesnivelados no mesmo sentido que o complexo QRS (concordantes); e/ou
Segmento ST e onda T em sentidos opostos; e/ou
Onda T com padrão bifásico (primeiro positiva, depois negativa); e/ou
Onda T simétrica, invertida, ampla, com configuração afunilada, e segmento ST com declive horizontal, ligeiramente “curvado”, simulando uma convexidade superior; e/ou
Alterações progressivas, ao longo do traçado, do segmento ST (ex. o supradesnivelamento torna-se gradualmente mais, ou menos, acentuado).
Não sugestivo de isquemia se:
Anamnese não sugestiva de DCI; e
Segmento ST e onda T na direcção oposta do complexo QRS (discordantes) – no caso do BRD, segmento ST e onda T no sentido oposto à porção terminal do QRS); e
Segmento ST e onda T desviados no mesmo sentido; e
Segmento ST e onda T não variam ao longo do traçado ECG.