Flutter Auricular (Típico e Atípico)

Figura – Flutter Auricular

O flutter auricular pode ser típico (o mais frequente) – circuito de reentrada passa entre a veia cava inferior e o anel da válvula tricúspide, uma zona denominada istmo cavo-tricúspide – ou atípico – o circuito de reentrada não passa no istmo cavo-tricúspide.

Os flutters típicos podem ocorrer contra o sentido dos ponteiros do relógio (mais frequente):

  1. FC > 100bpm, geralmente perto dos 150bpm:
    1. Frequência das ondas de flutter auriculares tipicamente entre 250 e 330bpm;
    2. Característicamente a condução é de 2:1 (isto é, 2 ondas flutter para 1 QRS). Caso a condução seja >2:1 (ex. 3:1, 4:1), na ausência de fármacos que atrasem a condução AV, deve ser considerada síndrome de Taqui-Bradi (ver doença sino-auricular); e
  2. Ondas flutter, em “dentes de serra”:
    1. Características (duração, amplitude, morfologia) semelhantes; e
    2. Predominantemente negativas nas derivações DII, DIII, aVF; e
    3. Positivas em V1; e
    4. Sem intervalos isoeléctricos entre as ondas flutter.

Ou no sentido dos ponteiros do relógio:

  1. FC > 100bpm, geralmente perto dos 150bpm;
    1. Frequência das ondas de flutter auriculares tipicamente entre 250 e 330bpm;
    2. Característicamente a condução é de 2:1 (isto é, 2 ondas flutter para 1 QRS). Caso a condução seja >2:1 (ex. 3:1, 4:1), na ausência de fármacos que atrasem a condução AV, deve ser considerada síndrome de Taqui-Bradi (ver doença sino-auricular); e
  2. Ondas flutter, em “dentes de serra”:
    1. Positivas nas derivações DII, DIII, aVF e
    2. Negativas em V1; e
    3. Sem intervalos isoeléctricos entre as ondas flutter.

Os flutters auriculares atípicos (mais raros), embora possam ser idiopáticos, ocorrem geralmente em situações pós cirurgia/ablação cardíaca, miocardiopatias ou cardiopatias congénitas, e não dependem do istmo cavo-tricúspide. Nesses casos, o circuito de reentrada pode-se localizar em qualquer outro local, na aurícula direita ou esquerda. As suas características são:

  1. Ondas flutter de morfologia, duração e amplitude regulares mas, ao contrário dos flutter típicos, pode haver um intervalo isoeléctrico entre elas; e
  2. Não há uma morfologia única das ondas flutter atípicas, já que a cicatriz do miocárdio que está frequentemente na sua origem pode ter localizações diferentes nas diferentes pessoas; e
  3. FC geralmente mais baixas, podendo nem haver taquicardia.

As mesmas causas da FA podem causar/precipitar um flutter auricular. Abaixo estão listados alguns dos factores precipitantes/etiologias mais frequentes.

  1. Cardiopatia estrutural
    1. Alterações no gene PITX2
    2. Fibrose do tecido cardíaco
    3. Annulus mitral
    4. Dilatação da aurícula esquerda
    5. Compromisso da FEVE
  2. Após cirurgia/ablação cardíaca
  3. Após fármacos antiarrítmicos para supressão de FA
  4. EAM ou DCI (raro)
  5. Tireotoxicose
  6. Obesidade
  7. SAOS
  8. Pericardite
  9. Doença pulmonar
  10. Disfunção Sino-Auricular
  1. Estudo Padrão
  2. ECG
  3. HOLTER
  4. Ecocardiograma
  5. Outros exames, de acordo com suspeita da causa subjacente
  1. Os doentes com flutter, devem ser encaminhados para SU se:
    1. Agravamento de IC ou IC de novo; e/ou
    2. Instabilidade hemodinâmica (síncope, confusão mental, hipotensão, edema agudo do pulmão, choque cardiogénico, etc.); e/ou 
    3. Suspeita de factor precipitante grave (ex. DCI aguda, TEP, tirotoxicose, pericardite, sepsis, etc.); e/ou
    4. Flutter Auricular persistente/permanente e:
      • Suspeita de BAV completo (geralmente com condução 3:1 ou 4:1 e FC <150bpm, podendo mesmo nem haver taquicardia, em doentes que não tomam antiarrítmicos)
      • Bradicardia sintomática, em utente que não toma fármacos cronotrópicos negativos; e/ou
      • Pausas > 3 seg sintomáticas, em utente que não toma fármacos cronotrópicos negativos; e/ou
      • Pausas > 5 seg, durante o período de vigília, mesmo que sejam assintomáticas.e/ou
    5. Muito sintomáticos (escala mEHRA III/IV); e/ou
    6. História clínica de pré-excitação (ex. WPW); e/ou
    7. Flutter, de novo, há <48h; e/ou
    8. FC mantida >120bpm.
  2. Após tratamento ou cessação do episódio agudo:
    1. Pedir MCDT, procurar e tratar eventuais causas e comorbilidades subjacentes. É frequente a cardiopatia estrutural e sobreposição com FA.
    2. Calcular os riscos trombótico e hemorrágico de acordo com os scores CHA2DS2-VASC e HASBLED.
    3. Um score HASBLED alto é uma recomendação para reavaliações frequentes (ex. consultas mensais) e não uma contraindicação para anticoagulação.
    4. Se CHA2DS2-VASC ≤ 1 mulher, ou = 0 no homem: não anticoagular e reavaliar  em 4-6 meses.
    5. Se CHA2DS2-VASC ≥ 2 mulher, ou ≥ 1 no homem, considerar anticoagulação, tendo em conta risco hemorrágico e contra-indicações absolutas.
    6. Se CHA2DS2-VASC ≥3 na mulher ou ≥ 2 no homem, e sem contra-indicações absolutas  para anticoagular:
      1. Doente com válvula cardíaca mecânica, válvula cardíaca biológica colocada há < 6 meses, ou estenose mitral moderada a grave:
      2. Restantes doentes:
    7. Finalmente, na ausência de contraindicações, medicar com β-Bloq ou BCC não dihidropiridínicos e encaminhada para a consulta de Cardiologia, já que o tratamento de 1ª linha na maioria dos doentes é o controlo de ritmo. Avisar os utentes que, enquanto esperam pela consulta, devem recorrer a serviços médicos caso desenvolvam sintomas.