Embora a causa exacta das ondas U seja desconhecida, pensa-se que se possa dever à repolarização tardia de uma região intermédia das células do miocárdio.
Pode ocorrer em situações fisiológicas ou patológicas, sendo importante o diagnóstico diferencial (ver causas e abordagem).
São vários os diagnósticos diferenciais das ondas U patológicas, sendo essencial o contexto clínico em que ocorrem. Se os sintomas forem sugestivos de DCI aguda, ou dúvidas em relação aodiagnóstico diferencial, o utente deve ser encaminhado ao SU.
Fisiológico
As características de uma onda U fisiológica são:
Baixa voltagem (<0,2mV); e
Claramente separadas das Ondas T e Ondas P; e
Mesma polaridade que as ondas T; e
Polaridade positiva na grande maioria dos casos (>90%); e
Quando visíveis, surgem de V2-V4; e
Tendem a aparecer com FC mais baixas:
<65bpm, cerca de 90% dos traçados tem ondas U;
<80bpm, cerca de 65% dos traçados tem ondas U;
>90bpm, menos de 25% dos traçados tem ondas U.
Ondas U invertidas (negativas, com aplitude >0,05mV),e proeminentes (≥ 0,1mV) são, frequentemente, sinal de patologia e devem ser estudadas. Seguem-se algumas das principais causas e respecitvas características electrocardiográficas (para uma lista mais exaustiva, ver causas):
Ondas U Invertidas (negativas, com amplitude > 0,05mV):
DCI
Inversão das ondas U, de novo, em doentes com anamnese sugestiva: considerar DCI aguda ou crónica.
Inversão das ondas U, em repouso, nas derivações DI, aVL e V4-V6: altamente sugestivas de oclusão da artéria coronária descendente anterior esquerda.
Inversão das ondas U, durante ou após a prova de esforço: altamente sugestivas de DCI. Considerar exame invasivo (ex. cintigrafia) ou referenciação a SU (se suspeita de angina instável).
HTA
Ondas T invertidas podem ocorrer em doentes com hipertensão mal controlada. Por norma regridem quando a tensão é tratada.
Na grande maioria dos casos cursam com ondas T negativas.
Geralmente visíveis em V5-V6.
Quando surgem no contexto de HTA, e após excluidas causas graves, deve-se descartar HVE. Pedir ecocardiograma.
Doença valvular
Pode ocorrer inversão das ondas U na doença valvular (sobretudo insuficiência aórtica e mitral).
Hipertrofia ventricular
Ondas U invertidas, geralmente associadas a ondas T invertidas, podem ser marcadores indirectos de hipertrofia ventricular.
Ocorrem nas derivações esquerdas (V5-V6) se hipertrofia do ventrículo esquerdo, e direitas (V1-V4) se hipertrofia ventricular direita.
QRS tem polaridade oposta às ondas U e T.
Pode ou não haver outras alterações no ECG (ver capítulo sobre hipertrofia ventricular).
Ondas U Proeminentes (amplitude ≥ 0,1mV):
Variante do normal
Em casos raros, uma onda U proeminente pode ser fisiológica;
Geralmente em contexto de bradicardia;
Visível de V2-V4, e positiva;
Apresenta as restantes características de uma onda U fisiológica;
Sem outros elementos das anamnese que melhor possam explicar essa alteração.
DCI aguda
Sensibilidade 71%, especificidade 97% para oclusão da artéria circunflexa esquerda:
Depressão do segmento ST em ≥2 derivações consecutivas ; e
Ondas U proeminentes em V2-V3; e
Rácio onda T/U em V2-V3 ≤ 4 .
HipoK
Durante a hipoK, podem-se observar inúmeras alterações no ECG (ex. extrassístoles auriculares ou ventriculares).
No entanto, sobretudo em situações graves (K<2,7mmol/L), as seguintes alterações são características:
Infradesnivelamento do segmento ST;
Prolongamento do intervalo QT;
Achatamento (amplitude <0,1mV), alargamento e/ou inversão da onda T;
Ondas U proeminentes;
Fusão entre a onda T e onda U.
Digitálicos
Efeito digitálico: ocorre frequentemente com valores fisiológicos de digoxina, não significa toxicidade.
Infradesnivelamento do segmento ST com concavidade superior (“Bigodes de Salvador Dali”); e
Ocasionalmente: onda T com baixa voltagem, encurtamento do intervalo QT, aumento do intervalo PR, ondas U proeminentes.