Bloqueio Auriculo-Ventricular de 2º Grau Mobitz I (Wenckebach)

Figura – BAV 2º Grau Mobitz I

  1. Aumento progressivo do intervalo PR até que uma onda P não conduz impulso eléctrico (ou seja, não é seguida de QRS); e
  2. A primeira onda P após o bloqueio conduz para os ventrículos com um intervalo PR mais curto que o precedente.

NOTA: Se BAV 2:1, ou seja, a cada 2 ondas P, uma não conduz um intervalo QRS – Figura – BAV 2º Grau 2:1 – ver Abordagem.

  1. Fisiológico
    1. Crianças
    2. Adultos jovens
    3. Durante o sono
    4. Atletas
  2. Degenerativo/idiopático
  3. Autonómicas
  4. Hipersensibilidade do seio carotídeo
  5. Estimulação vaso-vagal (cardio-inibitória)
  6. Tosse, defecação, micção, vómitos
  7. DCI (aguda ou crónica)
  8. Cardiomiopatia
    1. HVE
    2. Hipertensiva
    3. Dilatada
    4. Congénita
  9. Doenças infiltrativas
    1. Sarcoidose
    2. Amiloidose
    3. Hemocromatose
    4. Linfoma
  10. Doenças vasculares do colagénio
    1. Artrite reumatóide
    2. LES
    3. Esclerodermia
    4. Doenças do armazenamento
  11. Alterações electrolíticas
    1. HipoK
    2. HiperK
    3. HiperCa2+
    4. HiperMg2+
  12. Alterações metabólicas/ácido-base
    1. Hipotiroidismo
    2. Anorexia
    3. Hipóxia
    4. Acidose
  13. Trauma/pós-cirurgia cardíaca
  14. Anorexia
  15. Hipotermia
  16. Alterações neurológicas
    1. Aumento da pressão intracraniana
    2. Tumores SNC
    3. Epilepsia do lobo temporal
    4. SAOS
  17. Doenças genéticas e neuromusculares
    1. Múltiplas alterações hereditárias
      1. SSS2, AD, OMIM #163800 (15q24-25)
      2. Disfunção Sino-Auricular com miopia (OMIM #182190)
      3. Etc.
    2. Distrofia miotónica (tipo 1 e tipo 2)
    3. Distrofia muscular ligada ao cromossoma X
    4. Síndrome Kearns-Sayre
    5. Ataxia de Friedreich
  18. Infecciosas
    1. Endocardite
    2. Pericardite
    3. Miocardite
    4. Doença de Chagas
    5. Doença de Lyme
    6. Difteria
    7. Toxoplasmose
  19. Fármacos/substâncias/iatrogenia
    1. Antiarrítmicos
      1. Classe IA  Quinidina, disopiramida
      2. Classe IC  Propafenona, fleicanida
      3. Classe II  β-bloq
      4. Classe III  Sotalol, amiodarona, dronedarona
      5. Classe IV  Diltiazem, verapamil
      6. Outros – Digoxina, adenosina, ivabradina
    2. Anti-hipertensores (clonidina, reserpina, metilopa)
      1. BCC não dihidropiridínicos
      2. Reserpina
      3. β-Bloq
    3. Psicofármacos
      1. Donepezilo
      2. Carbamazepina
      3. Anti-psicóticos (lítio, fenotiazinas, amitriptilina)
    4. Agentes quimioterápicos (talidomida, lenalidomida, paclitaxel, etc.)
    5. Opióides
    6. Ticagrelor
    7. Antagonistas H2
    8. Cimetidina
    9. Pentamidina
    10. Radioterapia
    11. Pós-cirurgia cardíaca/ablação
    12. Intoxicação por Organofosfatos
  1. Estudo Padrão
  2. ECG
  3. HOLTER
  4. Ecocardiograma se suspeita clínica de doença cardíaca
  5. Prova de esforço, se sintomas durante ou após exercício
  6. Polissonografia se suspeita de SAOS
  7. Outros, de acordo com suspeita clínica.
  1. Procurar ativamente uma causa. É importante uma boa anamnese com história pessoal, familiar, viagens, consumo de fármacos, exame físico, e MCDT.
  2. Encaminhar para SU se:
    1. Hemodinamicamente instáveis (ex. síncopes, hipotensão, agravamento de IC, cansaço marcado), o que ocorre geralmente com BAV marcados, isto é, >600ms;
    2. BAV 1º grau associados a complexos QRS largos.
  3. Nos restantes casos, encaminhar para consulta de Cardiologia se:
    1. Doenças genéticas/neuromusculares graves (ex. distrofia muscular, síndrome Kearns-Sayre), mesmo se assintomáticos.
    2. Sintomas ligeiros, mas incomodativos para o utente (ex. palpitações, cansaço ligeiro), correlacionados com o BAV, e intervalo PR >300ms –– pedir MCDT e reverter eventuais causas, se possível/desejável. Reavaliar em 4 a 6 semanas:
      1. Se houver reversão de BAVnão é necessária referenciação a Cardiologia. Vigiar sinais e sintomas.
      2. Se mantiver sintomas, intervalo PR>300ms, e não for possível/desejável reverter a causa, referenciar para consulta de Cardiologia.
  4. Nos restantes casos, que corresponderão à maioria:
    1. É um achado benigno: tranquilizar utente.
    2. Se suspeita de SAOS e BAV (intervalo PR >300ms) durante o sono, pedir polissonografia.
    3. Se assintomáticos/sem correlação entre sintomas e BAV e sem nenhum dos critérios descritos nos pontos anteriores, vigilância periódica (cada 12 meses) com ECG e, se clinicamente justificado (ex. cansaço de novo), HOLTER e ecocardiograma; controlo de FRCV. Avisar o doente que, caso desenvolva sintomas (ex. síncope, palpitações, sintomas de IC), deve procurar ajuda médica.